Ricardo Lopes

E agora, Ronaldo?

Cristiano Ronaldo é um dos nomes mais marcantes do futebol mundial. O seu nome estará nos futuros livros de História da Modalidade e os adeptos jamais se esquecerão dele. Uns gostam, outros odeiam, mas ninguém pode negar a excelência de jogador que o madeirense é/foi.

Em 2021/22 regressou a Old Trafford, a uma casa que foi feliz, no entanto o Manchester United que encontrou foi altamente distinto daquele que abandonou, no final de 2008/09. Quem acompanha os “red devils” sabe que desde a saída de Alex Ferguson, a equipa nunca mais foi a mesma. A temporada que findou foi horrenda para os adeptos e para a instituição, somente conquistando a qualificação para a Liga Europa. Se ao nível coletivo o United foi um fracasso, o retorno de Ronaldo não foi assim tão mau, a título individual. Em 38 jogos marcou 24 golos, sendo o terceiro melhor marcador da Premier League, atrás de Son Heung-Min e Mohamed Salah. Estando numa equipa que jogava um futebol pobre (nem Solskjaer, nem Rangnick conseguiram inverter a situação), são números satisfatórios e ao alcance de poucos.

O grande problema é a falha na qualificação para a Liga dos Campeões, que levou a que a direção reduzisse em 25% do ordenado de todos os atletas. Com esta atitude, Ronaldo atravessa dois problemas: a perda de uma boa quantia do seu salário e um ano sem competir na maior prova de clubes europeia. A decisão do jogador foi falhar o arranque da pré-temporada, alegando motivos pessoais. A atitude levou de imediato a que as pessoas começassem a sugerir que o português está a forçar a sua saída, com Jorge Mendes a tentar encontrar uma equipa onde ele possa competir. O seu profissionalismo começou a ser posto em causa, algo que foi uma marca sua até sair de Madrid, relembrando que já na Juventus fez algo semelhante, há somente um ano atrás. Cristiano Ronaldo está a perder algum crédito que tem. Os adeptos do United não estão seguramente satisfeitos com a atitude de um dos seus históricos. É fácil de compreender a sua ausência (porque quer continuar a ganhar títulos e estar num projeto vencedor), mas mais simples do que isso é condenar a sua atitude, porque ser profissional está acima de tudo.

O atleta já entrou numa fase descendente da sua carreira e custa-lhe entender isto. É um fenómeno que todos passam, até Leo Messi já está a viver esse momento. Ao contrário do que Judite de Sousa escreveu hoje (08/07/2022) para o site da CNN “Porém, pelo que se percebe, Cristiano entende que essa não é ainda a sua “fase” de carreira. E entende bem”, o fim de carreira de Ronaldo está a começar. E isto analisa-se facilmente. São 37 anos. Os “tubarões” preferem dar um ordenado grande a avançados que garantam muitos golos a um curto e longo prazo, como o caso de Haaland ou Darwin Nuñez. Com CR7, o contrato mais razoável que poderiam realizar seria de dois anos. Jorge Mendes tem oferecido o seu atleta a todas as equipas de topo do Mundo, porém tem levado algumas negas. A mais recente foi a do Bayern que alegadamente irá perder Lewadowski e que a imprensa (e Jorge Mendes) entendeu que o português seria o substituto ideal. Ora, Oliver Kahn veio de imediato desmentir qualquer tipo de acordo, referindo que não se encaixa na visão do clube (em entrevista ao jornal Kicker, no dia 07/07/22), algo esperado, para quem conhece o projeto dos bávaros, provavelmente a equipa que contrata com mais rigor, olhando à gestão financeira (uma coisa é oferecer 75 milhões de euros por De Ligt, que seria titularíssimo na próxima década, outra é dar um ordenado monstruoso a um avançado, quando já se adquiriu Sadio Mané). Das equipas candidatas à “Orelhuda”, somente o Chelsea (recentemente adquirido por Tom Boehly) aparenta estar interessado. Será que Ronaldo vai querer representar outra equipa em Inglaterra além de um dos seus clubes do coração?

Além dos azuis de Londres, surgem duas hipóteses interessantes. A primeira, a da via económica, rumando à MLS. A segunda, voltar a outra casa que já foi feliz. No Real Madrid a porta está fechada (muitos jogadores de qualidade para as posições que Ronaldo ocupa no terreno). No Sporting poderá fazer aquilo que outro Bola de Ouro não fez: voltar a Alvalade e dar o seu contributo. Claro que neste segundo caso teria de haver uma redução salarial brutal, além de uma transferência com um valor simbólico (o Chelsea ofereceu 16 milhões de euros). O grande objetivo em qualquer uma destas mudanças já não estaria relacionado com a Liga dos Campeões, embora os “leões” estejam na sua disputa, mas sim a manutenção da sua forma para o Mundial do Qatar que deve marcar a sua despedida da Seleção Nacional (que melhor despedida do que alcançar o título?).

Ronaldo é um milionário, tem uma série de negócios de sucesso e uma carreira lendária. O seu grande problema é que tem de começar a pensar na sua despedida e os seus adeptos também.

Artigo de Ricardo Lopes – Mestre em Estudos Avançados e Investigação em História

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