A qualidade de vida, infelizmente, continua a ser um tema que ainda não está na agenda política e mediática, mas, para bem de todos nós, é importante mudar isso, procurando fomentar a discussão em torno do tema. Afinal, de que outra forma conseguimos melhorar a qualidade de vida dos portugueses?
Nesse sentido, é muito importante a criação de iniciativas que juntem os vários municípios do país, com o objetivo de promover e incentivar a partilha de boas práticas entre os mesmos. Só através da partilha e da cooperação será possível evoluir ao nível da qualidade de vida, não só a nível local, mas também a nível do país.
E há muito que podemos aprender com iniciativas locais. Há vários municípios que procuraram perceber as necessidades da população e decidiram intervir em prol do bem-estar dos seus munícipes, com o objetivo claro de proporcionar uma melhor qualidade de vida, em diferentes áreas.
Vejamos, por exemplo, o caso do município de Condeixa-a-Nova, no qual as boas práticas se centraram na área do ambiente. Nesse sentido, o município avançou com um reforço da rede de ecopontos, tendo atualmente 1 ecoponto por cada 120 habitantes; adotou o serviço gratuito de recolha porta-a-porta (PaP) em todos os estabelecimentos do município; implementou a recolha gratuita de monos em casa dos munícipes, bem como um parque para a sua deposição; entre muitas outras iniciativas nesta área, que permitiram diminuir a pegada ecológica do município e dos seus munícipes.
Por sua vez, o município de Vila Nova de Gaia tem, também, o projeto pioneiro “Gaia Cuidador”, lançado em 2021 e que, até ao momento, já ajudou 577 cuidadores informais. Este programa tem como objetivo garantir que as pessoas com baixos rendimentos e que necessitam de cuidados permanentes possam permanecer no seu domicílio sob o cuidado de familiares, evitando ou retardando a sua institucionalização. Além da ajuda financeira, o município apoia o cuidador de outras formas, como sessões de esclarecimento, encaminhamento para as redes de suporte e realizando iniciativas que visam o bem-estar do cuidador, como sessões de teatro.
Também em Vila Verde se pensa na qualidade de vida dos munícipes, estando a desenvolver o Município projetos na área da saúde, como o ‘Medivida’ que, com apoio de farmácias do município, visa facilitar a medicação às famílias carenciadas com problemas de saúde e que não têm recursos económicos para comprar medicamentos. Os projetos “Dentivida” e “Irisvida” seguem a mesma linha, mas aplicados à dentição e visão. A par destes projetos, foi criado o projeto “VALE + Nascer Vilaverdense”, em que todas as crianças nascidas no município têm direito a um vale de 250€ para as famílias usarem nas farmácias de Vila Verde.
Em Lagoa, o projeto inovador Smart City Lagoa tem como objetivo “ouvir a cidade” através da montagem de uma rede de dispositivos que potenciam a conetividade de dispositivos e monitorização permanente, que permite, por exemplo, controlar os contadores de água inteligentes ou monitorizar o lixo urbano (perceber se o lixo pega fogo, há quanto tempo está depositado, posição da tampa do ecoponto, entre outros.).
Já o município da Trofa destaca-se pelo projeto “MOVE-T”, que visa a melhoria da rede de transportes, apresentando, por exemplo, informação atualizada dos transportes e a hora prevista de chegada dos autocarros, incentivando assim a mobilidade sustentável. Para tal, foram feitos vários investimentos ao nível da melhoria das condições dos locais de espera de transporte público; dos corredores pedonais e cicláveis; implementação do sistema de bikesharing; e aposta nos postos de carregamento elétricos.
Estas foram algumas das boas práticas partilhadas por municípios no âmbito do Fórum das Práticas Municipais de Qualidade de Vida, promovido pelo INTEC. Apesar de serem, algumas delas, práticas simples, a verdade é que fazem, certamente, a diferença na vida e no dia-a-dia dos munícipes onde estão implementadas, contribuindo para a sua melhoria da qualidade de vida. E é isto mesmo que queremos: incentivar à partilha de ideias de boas práticas municipais para que os municípios possam cooperar e adotar muitas delas, se assim fizer sentido. Só assim conseguiremos aumentar a qualidade de vida em Portugal.
Artigo de Patrícia Jardim da Palma, Professora Universitária e Fundadora do INTEC – Instituto de Tecnologia Comportamental