Ricardo Lopes

Pedro Ribeiro não era uma novidade no clube. Alcançou a manutenção na época passada, mesmo jogando longe do Fontelo a cada fim de semana. Porém, apesar do objetivo concluído, o futebol praticado era extremamente aborrecido. Mesmo mudando o sistema tático, a ideia de jogo de 2021/22 era marcar um golo e de imediato fechar as linhas e o bloco, deixando que os adversários tomassem conta do jogo, acabando muitas vezes por surgir o tento do oponente. 2022/23 não poderia seguir o mesmo caminho. Houve um investimento elevado para que a equipa possa ambicionar por algo maior e Pedro Ribeiro confirmou quem dizia que o vimaranense “não tinha unhas para tocar esta guitarra”.

O jogo contra o SL Benfica B não foi aborrecido, porém o “vício” de defender o resultado ao final levou ao triste desfecho nos descontos, precisamente no último lance. No entanto, foi a derrota contra o Moreirense FC que deixou os adeptos mais descontentes. Num duelo entre candidatos à subida, a turma de Paulo Alves apresentou-se muito melhor organizada, mesmo quando o jogo estava 11vs11. A espaços, o Académico foi aparecendo, numa altura em que já estava a jogar com 10. Taticamente, o treinador tomou decisões bastante incompreensíveis. Colocar Nduwarugira a defesa central esquerdo (com o único motivo de ter um esquerdino na linha) é ridícula. O atleta do Burundi brilha muito mais no meio campo, para onde acabou por ser deslocado e fazer uma assistência. Jogar com Roberto Massimo a ponta de lança acabou por ser outro “tiro no pé”. O jogador é extremo, por muito que Pedro Ribeiro diga o contrário. No Stuttgart, equipa de Bundesliga, o alemão atuou pelo lado direito (pode até jogar a defesa direito, se necessário) e o seu desenvolvimento terá de ser nessa posição. Mesmo que a sua formação seja a de 9, isso não significa que faça a sua carreira nesse lugar, veja-se o caso de Fábio Coentrão, por exemplo. A colocação de Paná e Capela no meio campo faz com que não exista uma criatividade “dantesca”. São bons jogadores, mas nenhum se revela um portento nas dinâmicas ofensivas, o que obriga a ações individuais dos jogadores que atuaram nas costas de Clóvis, Toro e Famana Quizera, que não estiveram inspirados. A equipa, se bem treinada, pode atuar neste 3x4x3, mas não como Pedro Ribeiro a colocou, com os atletas mal posicionados o jogo coletivo tornou-se nulo. A sua tática até pode ser confundida com outras, já que os alas são muito distintos. Ott ataca melhor do que defende e Rafael Bandeira o inverso, o que leva a que o DCE (que é um médio de origem) tenha que em certos momentos transformar-se em um DE, o que gera um certo desequilíbrio que os atacantes adversários rapidamente se aperceberam.  Com a mudança para os 4 defesas na segunda parte (Bandeira, Almeida, Ícaro e Millioransa), com uma outra linha de 4 à sua frente, o coletivo tornou-se mais coeso, pois não existiam atletas fora de posição (até à saída de Clóvis).

A atitude do treinador do banco também se demonstrou sempre fraca e o seu último jogo foi um bom “espelho”. Pouco contacto para dentro de campo, apesar de estar sempre em pé. As poucas atitudes mostraram resignação. Aparentou ter “desistido” do resultado, o que se comprova com o seu (típico) discurso no final da partida, onde a culpa teria sido outra vez da falta de sorte. Não foi (só) pela expulsão de Paná que o jogo foi perdido.

O seu despedimento, após 1 ponto em seis possíveis, resultados e exibições de pré-época paupérrimos e com o historial de 2021/22 a assombrar, acaba por ser natural, ainda que alguns sócios e simpatizantes defendessem a ideia de que nem deveria ter começado a época como técnico principal.

Pedro Ribeiro é um treinador de nível para a Segunda Liga, ainda que pareça estagnado. O seu FC Penafiel jogava muito melhor do que o Académico. Não me acredito que tenha que dar um passo atrás na carreira, mas lutar pela promoção ainda não está ao seu alcance. Quiçá com uma pausa e uma outra experiência o façam crescer para esse patamar.

Já o Académico inicia aqui uma nova era de equipa técnica para acompanhar o seu projeto que aparenta ser fabuloso. Mariano Maroto López terá seguramente a sua short list, onde estarão incluídos nomes nacionais e internacionais (João Henriques ou Pako Ayestarán seriam opções de qualidade, se aceitarem a Segunda Liga). Venha quem vier, terá de vir para vencer e de preferência, a jogar bem.

Artigo de Ricardo Lopes – Mestre em Estudos Avançados e Investigação em História

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