As freguesias do Campo, Rio de Loba e São João de Lourosa, no concelho de Viseu, “emprestam” as suas histórias ao projeto “No Fio da Palavra”, do coletivo Mochos no Telhado, que as recontam num teatro musicado, anunciou a organização.

“Esta segunda edição de ‘No Fio da Palavra’ conta com as freguesias do Campo, Rio de Loba e São João de Lourosa, onde estamos a recolher histórias, junto da população, para as recontarmos num espetáculo que apresentaremos à comunidade”, adiantou Dennis Xavier.

Em conferência de imprensa, o responsável pelo coletivo Mochos no Telhado, criador do projeto “No Fio da Palavra”, anunciou que “a programação cultural, para além dos contos e da tradição oral, tem este ano a novidade da poesia”.

O projeto “No Fio da Palavra” divide-se em quatro eixos de programação que têm “designações associadas à tradição oral: contos pedidos, d’ouvir e chorar por mais, vira o disco e conta outro e, depois, há os espetáculos diferenciados”.

“Temos a particularidade de auxiliar na preservação do património imaterial das freguesias onde se desenvolve o projeto, através da recuperação de narrativas, de histórias e de memórias”, sublinhou.

Esta preservação faz parte do eixo dos “contos pedidos”, em que o coletivo vai ter “conversas com a comunidade, com a preciosa ajuda das juntas de freguesia, para recolher histórias e memórias”.

Dennis Xavier adiantou ainda que o Mochos no Telhado criou uma parceria com o Centro de Estudos Ataíde de Oliveira, que “fará a classificação dos registos que tenham a categoria de conto e isso permitirá que se insiram no catálogo dos contos tradicionais portugueses”.

Da primeira edição, “foram cedidas as transcrições das recolhas feitas no ano passado e pelo menos uma das histórias narradas vai entrar para este catálogo, que está disponível ‘online’, mas tem publicações em papel de x em x anos”.

António Jorge, da freguesia do Campo, foi quem contou “Os figos do tio Madeira”, que foi a selecionada para o catálogo e, segundo disse à agência Lusa, “é daquelas histórias que se ouvem desde sempre na aldeia sobre o tio Madeira, de Moselos”, na freguesia do Campo.

“Isto é uma mais-valia para ao projeto, porque, para além de ficarem cedidas ao Município de Viseu, ficam também inseridas num catálogo nacional”, destacou Dennis Xavier.

Estas narrações estão na base do espetáculo “Deixa-me contar antes que esqueça”, em que “mais não é do que devolver às pessoas as histórias que contaram” nas três freguesias parceiras e que serão interpretadas por Dennis Xavier, Sofia Moura, Ricardo Augusto e Ana Arinto.

“Elas contam-nos e nós recontamos. Há sempre um trabalho sobre essas histórias, porque muitas vezes vêm um pouco fragmentadas e nós trabalhamo-las de modo que se transformem num espetáculo de narração oral. Há talvez alguma percentagem de ficção, diria”, assumiu.

O projeto, que decorre de junho a outubro, com pausa em agosto, leva ainda à Biblioteca Municipal D. Miguel da Silva, inserido no “D’ ouvir e chorar por mais”, teatro, teatro de marionetas e contos, “inspirados no universo da palavra e em espetáculos para toda a família”.

No eixo do “vira o disco e conta outro”, são “rodas de contos com convidados que não são associadas à prática da narração oral, mas são contadores de histórias” e, este ano, participam Ana Bento, António Alvarenga e Rui Macário Ribeiro, no jardim da Casa do Miradouro, em 25 de junho, “e de preferência estes encontros serão sempre em jardins” municipais.

Dennis Xavier acrescentou ainda que “Filipa Fróis também marca presença na biblioteca, no dia 02 de julho, com ‘conto-te com as calças’ e, no mesmo dia à noite, é Pedro Lamares que se apresenta no Teatro Viriato.

“Temos muita ambição com este projeto, queremos vê-lo crescer e gostávamos que Viseu se tornasse um centro de contadores de histórias que pudesse e viesse a acolher contadores de todo o mundo”, admitiu Dennis Xavier.

O projeto tem um apoio financeiro da Câmara Municipal de Viseu de 17 mil euros por ser, segundo a vereadora da Cultura, Leonor Barata, “um projeto estruturante” que se espera que “cresça e se consolide e autonomize”.

“Todos sabemos que no início todos precisamos de ser ajudados e, de alguma maneira, este apoio é um pontapé de saída, a estes nossos ‘braços armados’, para promover a dinamização dos nossos espaços municipais, mas que têm toda a independência artística”, sublinhou.

A vereadora destacou ainda que “os espaços não são para estar fechados e, por isso, é com muito gosto” que disse ver “os mochos invadirem a biblioteca, mas também os diversos jardins para que os espaços também dialoguem com os artistas e com as palavras ditas”.

“Esta recolha de património não é por termos saudades do passado, é porque sabemos que é no passado que está o nosso futuro e, porque sabemos que um povo sem memória é um povo sem futuro e, por isso, é importante olhar para o património”, defendeu.

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