O atual presidente de Penalva do Castelo está convicto que sairá vencedor nas próximas eleições autárquicas. “Francisco, o Presidente de Todos!” não se revê em discriminações políticas e canaliza toda a sua energia a elogiar os três produtos da terra. É com orgulho que fala no Queijo, na Maçã Bravo de Esmolfe e no Vinho sem se esquecer de elogiar o trabalho feito neste mandato pela “sua terra”.

O que é que Penalva do Castelo tem hoje de diferente depois da sua chegada a 21 de outubro de 2013?

Penalva do Castelo está muito diferente. Acima de tudo, noto que o pensamento dos penalvenses se alterou. Consegue-se perceber que existe uma grande interligação entre o executivo municipal e a população por ser feita uma política de proximidade. Podemos ver isso nos eventos que fomos realizando ao longo destes quatro anos. Reunimos com todas as associações do concelho e temos uma ótima relação entre todas. No passado, era difícil sentar à mesma mesa cinco associações porque andavam de costas voltadas. Hoje isso não se verifica. E isto é também aquilo que os penalvenses me transmitem. Depois, nota-se um grande asseio nas localidades. Primamos pela limpeza, pelo embelezamento. É agradável visitar a vila não só pelos espaços verdes que criámos como o Parque da Lameira (recentemente inaugurado com cerca de um hectare) onde outrora era um depósito de materiais de construção, de materiais abandonados, onde funcionavam algumas barracas… Conseguimos transformar essa realidade para um espaço hoje de lazer e com tradição, já que criámos uma capela dedicada ao São Pedro. Salta à vista de quem nos visita e de quem lá vive.

Na altura quando tomou posse, frisou que ia tentar fazer dos quatro anos uma presidência de proximidade, ao que parece um objetivo conseguido. Apesar de ter sido eleito pela lista do PS disse sempre que era um candidato suprapartidário. Conseguiu passar essa mensagem, de ser um presidente de todos os penalvenses?

Sem dúvida alguma. Tratei todos os penalvenses por igual sem nunca fazer qualquer discriminação política. As freguesias que não pertencem à nossa cor política foram tratadas com igualdade e equidade. Prova disso é o facto de ter havido um investimento maior nas freguesias que não pertencem ao Partido Socialista do que nas do partido. Essa foi a nossa imagem de marca. Se tivéssemos de escolher um slogan seria: “Francisco, o Presidente de Todos!”. Fizemos as listas não pela cor, mas pela capacidade de trabalho e pela honestidade. Das 335 pessoas que envolvemos, 2/3 eram independentes ou pertencentes a outros partidos.

“Tratei todos os penalvenses por igual, sem nunca fazer qualquer discriminação política”

Considera por isso que as autárquicas são mais os candidatos do que propriamente os partidos que os apoiam? Sente que é mais um socialista ou um penalvense com algumas ideias políticas dos PS?

Aqui pouco importa o partido. Não tinha qualquer problema de ser candidato independente ou até por outra força política. Desde que as pessoas que me acompanham fossem as mesmas. Não ando nisto há quatro anos. Fui candidato três vezes, perdia as duas primeiras candidaturas e venci esta última. A experiência leva-me a afirmar que 10% é pelo partido, os restantes 90% são pelas pessoas.

O seu próximo adversário no ato eleitoral de 1 de outubro, Gabriel Costa (um candidato com história no concelho de Penalva do Castelo) na altura como presidente da Câmara de Penalva do Castelo avançou com uma frase paradigmática e deu muito que falar: “Quem está com o governo come, quem não está cheira…”.  Sente isso? Mediante a cor política instalada no Governo, os autarcas também têm mais ou menos acesso a determinado tipo de apoios?

Penso que não. Se assim fosse não havia coerência. Se Gabriel Costa pensasse hoje o que pensava outrora… não era candidato, porque o Governo é PS. Na minha opinião, foi uma afirmação infeliz dele, não a devia ter dito. Fui bem tratado pelo Governo da PAF (Portugal à Frente) e estou a ser bem tratado pelo Governo do PS, do Bloco de Esquerda e da CDU. Não vejo diferença alguma entre um e outro. Houve sempre respeito, elegância e educação. Se me perguntar se há mais à vontade com o Governo atual? Claramente. Já conhecia alguns ministros de outras lides.

“Viver e sentir Penalva” é o slogan da sua campanha… Pergunto-lhe se se sente e vive Penalva hoje melhor do que há quatro anos?

Dos quatro anos herdámos os mandatos do antigo Presidente Leonídio Monteiro e sentia que havia já um certo desgaste no modo como estava a gerir o conselho. Foi um homem que esteve 20 anos à frente da Câmara Municipal e usou nos tempos finais o mesmo método inicial. Não havia inovação. Eu, como vereador da oposição cheguei a sugerir-lhe ideias. A nível de eventos, aqueles eventos que hoje o executivo está a fazer e que são um sucesso, o então autarca Leonídio podia aproveitá-los e não o fez. Estamos a falar de um concelho tradicionalmente de matriz social democrata e não precisava de se empenhar muito para ganhar as eleições, bastava apenas fazer aquela gestão corrente que nos designamos de “atender os munícipes”. Não precisava de fazer grandes obras ou até de ter a atenção que estamos a ter agora para resolver problemas da população com pouco dinheiro. Estou a lembrar-me da primeira Estação de Tratamento de Águas (ETA), construída neste mandato, no rio Dão. Um investimento a rondar os 80 mil euros. Com 80 mil euros, passámos a fornecer água de qualidade às freguesias na parte nascente do concelho. Esta era uma queixa garantida em todos os verões nas redes sociais, com fotografias a mostrar água castanha, e conseguimos resolver o problema parcialmente. Naturalmente que nas épocas mais secas, não havendo água no rio, não a poderei tratar se ela não está lá. Definitivamente só ficará resolvido com a nova conduta que estamos a construir, num valor de 1 milhão de euros, para ir buscar água à barragem de Fagilde para todo o concelho.

A água e os esgotos são duas das preocupações que os vários concelhos vizinhos têm em comum…

Sem dúvida. Tratar as águas residuais foi uma grande preocupação deste executivo. O território de Penalva do Castelo é banhado por quatro rios e sabendo nós que havendo ali situações desagradáveis… contaminamos logo as águas nomeadamente a água do rio Dão que serve os concelhos de Penalva do Castelo, Mangualde, Sátão, Viseu e Nelas. Foi uma obra conseguida ainda no anterior Governo (PAF). A candidatura, feita através do POSEUR (Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos), para a ETAR de Gôje que vai orçar 2 milhões de euros com uma comparticipação de 85% de fundos comunitários; essa sim vai resolver o problema quase na totalidade. Contudo, fizemos mais sete candidaturas e quis o destino que tivéssemos sido contemplados com duas. Ambas vão ser construídas em freguesias que não vestem o Partido Socialista: Pindo e Castelo de Penalva. Das sete candidaturas, duas estão aprovadas e financiadas. Tenho esperança de obter mais algum financiamento e caso isso aconteça e que seja contemplado pelo menos com mais duas, garantimos a construção das sete. As restantes três ETAR’s com o dinheiro municipal essa verba fica cabimentada.

Penalva do Castelo é um concelho em que o motor da economia é a agricultura com a vantagem de ter três produtos de excelência (o vinho, o queijo e a maçã) todos eles de áreas e regiões demarcadas. Vai continuar a ser uma aposta da autarquia ou é possível começar a fazer da indústria um segundo motor?

A indústria para mim é uma atividade de complemento. Infelizmente, temos de reconhecer a realidade do concelho. Temos 60 % da população envelhecida, somos um concelho onde a desertificação também se acentuou e existe muita emigração. A zona empresarial de Esmolfe-Sezures está concluída e apresentado está o regulamento para as empresas se instalarem e estamos em bom ritmo para construir a zona empresarial de Germil. Uma zona próxima da A25 e pela qual os empresários mais se interessam porque fazem bem as contas aos quilómetros nos custos. Para Penalva do Castelo a agricultura é importante, mas a aposta terá de passar pelo turismo e enoturismo. Estes produtos vão servir para chamar a Penalva inúmeros turistas. Prova disso é a Casa da Ínsua ter diariamente cerca de 80 espanhóis. Neste momento, há interesse de três empresários (dois Portugueses e um Brasileiro), para a construção em Penalva do Castelo, de uma unidade hoteleira, tipo Resort. Se esse projeto se concretizar, teremos no concelho a instalação diária de várias de centenas de turistas de nacionalidade brasileira. Pessoas que hoje temem pela sua segurança no Brasil e que veem o seu futuro na Europa e em Portugal a porta de entrada. Penalva do Castelo teve a felicidade de ter um penalvense ali residente e outro de nacionalidade brasileira com vontade de investir no concelho. Os nossos jovens, que acabam os seus cursos, terão muito mais oportunidade de colocação no ramo da hotelaria do que propriamente na indústria.

Analisando os censos mais recentes, Penalva do Castelo perdeu 1000 de 9 mil habitantes nos últimos anos. Como é possível estancar esta desertificação?  

Neste momento a autarquia tem de estar sensibilizada para esse fenómeno. Tem de criar mecanismos de incentivos à fixação dos jovens. Temos promovido sempre os três produtos em simultâneo. A Câmara Municipal colocou Penalva do Castelo no mapa nacional e até internacional quando divulga, e bem, a Feira do Queijo. Esta deixou de ser de âmbito distrital (englobava os habitantes de Viseu, Penalva, Mangualde e Sátão) e passou, com a transmissão televisiva das últimas quatro edições, a ganhar outro reconhecimento. Eu costumo dizer que podem fazer uma imitação da Maçã de Esmolfe, mas nunca conseguirão na íntegra porque Esmolfe pertence a Penalva do Castelo. Em Lisboa, eu passava por alguns supermercados e por várias vezes que via “Maçã do Mofo”. Esmolfe surgiu depois da divulgação televisiva. Quando se faz um evento para o queijo, temos sempre associado o vinho e a maçã, vice-versa. Depois, deixámos de fazer a Feira do Queijo numa sexta-feira de manhã e passámo-la para o fim-de-semana inteiro, dois dias. Traduziu-se logo no número de visitas obtidas: mais de 20 mil pessoas. A Feira da Maçã de Bravo de Esmolfe, que se realiza no segundo fim-de-semana de Outubro, capta sempre mais de 10 mil pessoas. Estes eventos foram uma aposta ganha. Depois temos ainda para promover os produtos, na Guarda, a Feira Ibérica de Turismo (FIT) e a Feira Nacional de Agricultura, em Santarém. Além disso, já fizemos uma exposição no Restaurante Zambeze com os três produtos e a Comunidade Intermunicipal (CIM) Viseu Dão Lafões tem tido um papel preponderante na ajuda a esta divulgação. Este ano fizemos o “Queijo à Chefe”, na Casa da Ínsua, que reuniu cinco chefes de cozinha com estrelas Michelin. Tudo isto tem servido para rentabilizarmos os produtos ao mesmo tempo que incentivamos os jovens a manterem estas culturas.

Hoje em dia é fundamental para as regiões do interior haver essa associação a entidades como a CIM Viseu Dão Lafões? É impossível Um município pensar em sobreviver “per si”?

É mais difícil. Nós já tínhamos a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) que apoiaria sempre os concelhos, no passado também havia o Governo Civil, mas hoje… a CIM Viseu Dão Lafões é a mola real para que concelhos como Penalva do Castelo não percam o comboio do desenvolvimento. Há 14 Presidentes de Câmara a trocar permanentemente ideias. Sem referir nomes, há génios que as criam e depois há aqueles que humildemente as acatam e executam a pensar no bem do concelho.

Falando no futuro, se for reeleito, o que gostaria de fazer por Penalva do Castelo nos próximos quatro anos?

Aquilo que fizemos nestes últimos quatro anos era suficiente para eu sair satisfeito. Se eventualmente não me voltasse a recandidatar ou até que perdesse as eleições, saía consciente do dever cumprido e nunca arrependido por ter emprestado 4 anos da minha vida ao exercício público e ao serviço a Penalva do Castelo. Naturalmente, que acredito numa reeleição. Não é por favor, mas é por merecimento. Desafio os meus conterrâneos a verificarem se merecemos ou não ser reeleitos. Quando me candidatei há quatro anos, disse que era crucial fazer a revisão do Plano Diretor Municipal (PDM) porque era um entrave. Começou a ser revisto na década de 90 e foi concretizado no primeiro ano do nosso executivo. Arregaçámos as mangas e dei ordens expressas à engenheira da Câmara para não fazer mais nada, a não ser trabalhar para o PDM ser revisto. E assim foi. Porque… não se trata de uma simples revisão. É por aí que também se combate a desertificação, que se instale indústria, que se contrua… o PDM está para as autarquias como Código Civil português, para os cidadãos. Por exemplo, o Parque da Lameira que nós inaugurámos era impossível se não tivéssemos tido essa preocupação de revisão do Plano Diretor Municipal. Este foi o primeiro objetivo. O segundo passava por acabar a zona industrial para fixar indústria. O terceiro, foi encetar todas as condições para um concelho limpo e saudável para atrair turismo. A ETAR vai ser inaugurada no segundo mandato que se avizinha. A Loja do Cidadão, que está a ser construída nos antigos Paços do Concelho (um edifício emblemático carregado de história), vai ser concluído no final deste mandato ou no início do outro.  A Zona Empresarial de Germil e a remodelação das vias de comunicação também ficarão para o próximo mandato. O outro autarca que fosse eleito poderia aproveitar este trabalho e fazer a sua conclusão. Sempre defendi que aquilo que estaria a ser feito de bom seria para manter e o menos bom para alterar. Não cheguei à Câmara a rasgar os projetos já existentes. Dei-lhes continuidade. Gostava ainda de ter oportunidade de fazer as obras dos Planos de Ação de Regeneração Urbana (PARU) em que temos de financiamento cerca de 900 mil euros e iniciámos apenas uma pequena obra. Queria também ver concluída a conduta da água, para dizer que foi no nosso mandato que resolvemos parcial e definitivamente um problema que a todos preocupava. Seria um sonho que as pessoas se começassem a fixar no concelho. Apesar do número dos censos demonstrarem um aumento, essa realidade não me satisfaz porque são ex-emigrantes que estão a regressar para gozar a sua reforma em Portugal. São bem-vindos, são úteis e dinamizam a economia do concelho. Contudo, o foco são os nossos filhos e os nossos netos.

A equipa do atual executivo vai manter-se no próximo?

Não haverá surpresas. Naturalmente que todas as equipas devem ter pequenos acertos. Costumo dizer que equipa que ganha não se mexe, mas como nas equipas de futebol merecem ser reforçadas e renovadas. Tínhamos alguns membros, nomeadamente na assembleia, com alguma idade. Conversámos com eles e chegou-se a um consenso de renovação. Havia jovens que precisavam de mostrar o seu valor e foi o que aconteceu. Os três primeiros à Câmara são os mesmos. Aliás, só aceitei ser candidato depois de ter reunido com a minha equipa incluindo os Presidentes de Junta, que me afirmavam que estavam disponíveis para me acompanharem nesta jornada.

Está convicto que volta a ganhar com maioria absoluta?

Sem dúvida alguma. Em Penalva do Castelo, tem sido tradição que quem ganhar… ganha com maioria.

“Aquilo que fizemos nestes últimos quatro anos era suficiente para eu sair satisfeito”

(Entrevista em versão imprensa, edição jornal de agosto 2017)