Dr. Rui Oliveira Soares

A incidência de cancro da pele em Portugal é preocupante. São diagnosticados, de forma oficial, mais de dez mil cancros de pele cada ano. Por outro lado, existe um elevado número de cancros de pele que fogem a esta estatística e que correspondem, na sua maioria, a carcinoma basocelular, a neoplasia maligna mais frequente, que habitualmente não metastiza e não mata, e que muitas vezes é tratada em hospitais e consultórios de dermatologia sem que exista um registo oficial. O segundo cancro de pele mais frequente, carcinoma espinocelular, está em muitos casos associado ao tabaco e a lesões crónicas da pele. Finalmente, o que mais nos preocupa, é o melanoma maligno, já que determina mais mortes porque metastiza com frequência e pode ser muito agressivo. Todos os anos são diagnosticados cerca de mil em Portugal. Neste cancro, o momento de diagnóstico determina a diferença entre a vida e a morte. Em lesões iniciais, de pouca profundidade na pele, as taxas de cura com a excisão são acima de 95%. Pelo contrário, em lesões avançadas, de maior profundidade, a metastização e o desfecho fatal são a regra.

O facto de ser tão importante o diagnóstico precoce leva a Liga Portuguesa Contra o Cancro a fazer tudo o que está ao seu alcance para antecipar o momento do diagnóstico como apelar ao auto-rastreio, com visualização de toda a pele trimestralmente com ajuda de um espelho ou de um familiar. É também importante explicar às pessoas quais são os sinais de alerta – assimetria, bordo irregular, cor não uniforme, diâmetro acima de 6mm e, mais importante que tudo, alteração de um sinal em semanas ou meses. A LPCC defende que é importante organizar rastreios de cancro de pele, sobretudo dirigido a populações de risco – agricultores, pescadores, idosos, etc.

Vimos também denunciar a carência de médicos dermatologistas no SNS, já que a observação precoce por estes profissionais é o fator que mais pode diminuir a mortalidade por cancro da pele, além da redução dos fatores de risco sobre os quais podemos atuar (já que não podemos atuar sobre a genética, que é um importante fator de risco) como não fumar, ter estilo de vida saudável, e ter exposição moderada ao sol (uso de roupa, chapéu e óculos escuros, expor mais no inverno e menos no verão, estar mais à sombra e evitar expor no verão entre 12 e 16h, uso de proteção solar de índice protetor elevado – 30 ou mais).

Recomendamos não tatuar grandes áreas da pele, já que dificultaria a deteção precoce e sugerimos a observação anual da pele pelo médico de família ou, quando possível, por dermatologista.

A educação para a saúde na escola e no trabalho é vital para diminuir a incidência deste tipo de cancro e a LPCC tem promovido campanhas e tem incentivado a investigação e formação em Oncologia, também nesta área, para combater este flagelo.

É neste último papel que organizamos e promovemos eventos científicos, como é o caso da conferência “Cutaneous Melanoma: From Where to Where?”, que se realiza no dia 15 de outubro, cujo contributo é essencial para a partilha do saber, permitindo qualificar profissionais de saúde, investigadores e todos os que trabalham diariamente para o avanço da ciência na área oncológica em oncologia cutânea. Conseguimos reunir um painel de oradores de craveira mundial na oncologia cutânea e apelamos a todos os que se interessam por esta área a estar presentes.

*Rui Oliveira Soares – Dermatologista e Responsável pela Prevenção Secundária no NRS da Liga Portuguesa Contra o Cancro