Ricardo Lopes

Julho no Académico: um mês de mudanças (para o positivo), com Ramiro Sobral a estragar a pintura

O Académico de Viseu FC sofreu uma série de transformações com o virar da temporada. Se já no último jogo do campeonato apresentaram novos “mantos” (a camisola alternativa e a de guarda-redes, fabricadas pela Joma), somaram-se outras atitudes a serem conotadas como muito positivas. Alguns dos problemas que já tinham sido abordados na época passada estão resolvidos e outros a ser melhorados, aumentando as expectativas dos sócios e adeptos. Pessoas de fora da cidade consideram inclusivamente o Académico como um sério candidato à subida.

A montagem do elenco foi muito bem realizada, com a contratação de elementos jovens (e com contratos longos) e a manutenção de representantes da experiência, sempre necessária em qualquer balneário. O mercado academista merecerá a sua análise profunda, mas a mesma faz mais sentido que se realize em Setembro, com a janela encerrada. Ainda assim, vale a pena destacar as manutenções de Grill e Quizera (os melhores de 2021/22) e as aquisições de Roberto Massimo, André Almeida e Nduwarugira. O primeiro fazia parte do plantel do VfB Stuttgart, sendo uma jovem promessa que pode fazer todo o corredor direito sem qualquer tipo de problemas (integrando-se facilmente num 4x2x3x1 ou num 3x4x3). Já os restantes apesar de estarem em clubes de Segunda Liga, facilmente encaixariam na primeira. André Almeida será o patrão da defesa e o Nduwarugira o “6” que já fazia falta. Juntando todos os outros nomes, foi um mercado “pornográfico”, patrocinado por Mariano Maroto López, que mostrou uma bela visão de mercado, especialmente em elementos oriundos da Alemanha.

A aproximação do clube à cidade está a ser realizada progressivamente. As redes sociais estão mais ativas, com publicações diárias e um bom contacto com os adeptos. A apresentação de todos os elementos ligados ao futebol profissional ao início de 2022/23 no Adro da Sé foi a cereja no topo do bolo. Permitiu o contacto com os jogadores e direção, havendo a coabitação com os adeptos que estavam interessados em deslocar-se, permitindo-se fotos e autógrafos. O discurso do Presidente da SAD foi extremamente positivo, mostrando que acompanha a realidade do clube e que estará mais presente que na temporada que findou. Há muitos anos que não havia uma tentativa de aproximação como esta, o que se deve saudar e aplaudir. Foi muito bonito ver, jogadores, equipa técnica, claque e adeptos juntos. Faz sentido mais eventos deste género, já que todos remamos para o mesmo lado. A cerimónia ficou marcada pela presença de pessoas importantes do universo academista e da cidade, no entanto o Presidente da Câmara Municipal de Viseu, Fernando Ruas não marcou comparência, expondo que o seu interesse pelo clube mais representativo da cidade é nulo (Pedro Ribeiro representou o órgão municipal), o que não nos exibe qualquer tipo de novidade (o que mais importa ao Dr. Fernando Ruas no que toca ao desporto é a passagem da Volta a Portugal por Viseu, que tem causado o caos no trânsito nos últimos dias, além de que em certos casos só se alcatroou uma faixa).

Apesar de tudo o que se pode e deve elogiar, no melhor pano cai a nódoa. Se o Presidente da SAD tem realizado um exímio, a direção do clube causou um “terramoto”. No dia 25 de Julho, todos os membros da Direção anunciaram a sua demissão, com a exceção de Ramiro Sobral, sucessor interino de António Albino. Com isto nasceram duas hipóteses: a existência de eleições antecipadas ou a criação de uma comissão administrativa. Circula a ideia de que Ramiro Sobral estaria a reunir um abaixo assinado para deixar cair todos os órgãos sociais do clube, além de estar a afetar o trabalho da SAD. Numa época de transformação a atitude não faz qualquer sentido. Podemos inclusivamente comparar com um caso familiar a todos os que gostam de futebol. Rui Costa demitiu-se da presidência do SL Benfica no dia 1 de Setembro de 2021, deixando que se finalizasse o período de transferência e a fase embrionária da temporada (com o acesso à Champions e as primeiras jornadas) passar. Ramiro Sobral deveria ter seguido o que fez o presidente do clube da Luz. Claro que neste caso não existe a “Orelhuda”, mas tem que se arrancar o campeonato com estabilidade, mesmo que o Mariano Maroto López tenha muito mais influência que Ramiro Sobral no que ao futebol diz respeito. Uma decisão desta categoria não pode ser tomada em Julho ou Agosto. O Presidente do Académico tem o direito de se candidatar a futuras eleições, porém saiu a perder com todos estes últimos acontecimentos. Poderia ser o grande sucessor de António Albino, com o qual tinha uma grande relação, mas está longe de ser um histórico viseense (o que naturalmente o irá prejudicar). Fará qualquer sentido votar numa pessoa com um historial tão básico (e que para algumas pessoas pode ser considerado pobre)?  Chegou somente em 2019/2020 para ser Diretor Geral e o seu trabalho não foi de relevo. Já no Desportivo Olivais e Moscavide exibiu qualidades insuficientes que o levassem a um clube de Segunda Liga. Não faria mais sentido mostrar algum trabalho em 2022/23 para ter mais hipóteses no ato eleitoral que se adivinhava?

Não é fácil que existam muitos candidatos às próximas eleições (é preferível que Célia Sérgio as convoque, já que o mal já foi feito), mas António Albino merecia ter um sucessor que acompanhe o clube desde sempre e não um elemento que chegou à nossa realidade há pouco mais de dois anos e que pode estar a estragar e destabilizar um projeto bem feito, com pés e cabeça e com objetivos entusiasmantes. Os academistas não andam seguramente a dormir. Os sócios merecem escolher o presidente, é um direito que lhes pertence, mas ninguém estava a pedi-las para já. E se o Presidente da SAD não tem qualquer relação com Viseu, o do clube deveria ter, para evitar qualquer problema no futuro…

Artigo de Ricardo Lopes – Mestre em Estudos Avançados e Investigação em História